
A vestimenta Iorubá: História, simbolismos e o poder da indumentária
- desalinhandoideias

- 19 de nov.
- 3 min de leitura
A cultura iorubá é uma das mais ricas e influentes da África Ocidental, presente majoritariamente na Nigéria, Benim e Togo. Sua estética, espiritualidade e modos de vestir formam um universo de significados que ultrapassa a ideia de roupa: trata-se de identidade, linhagem, ancestralidade, espiritualidade e status social. A indumentária iorubá moldou não apenas o vestuário africano, mas também influenciou o Brasil, especialmente regiões como Bahia e Pernambuco, onde tradições afro-religiosas preservam elementos dessa herança até hoje.
Nesta matéria, vamos explorar as principais peças, seus significados, técnicas têxteis, cores, usos cerimoniais e como essa estética atravessou continentes, mantendo-se viva e reinventada.

Para os iorubás, vestir-se é comunicar, cada peça, cor e tecido carrega símbolos sociais, religiosos e estéticos. A roupa marca classe social, fase da vida, ocasião (comum, ritualística, funerária, festiva), status familiar e relação com os orixás no contexto religioso.
O vestuário é tão importante que, tradicionalmente, é parte essencial de ritos de passagem como coroações, casamentos e funerais.
Tecidos tradicionais

Aso-Oke
O tecido mais icônico. Feito em tear manual, espesso, nobre, usado em ocasiões especiais como casamentos e festivais.
Existem três tipos principais:
Etu: azul-marinho ou preto com riscas finas
Sanyan: tom beige-dourado feito das fibras da seda africana
Alaari: vermelho vibrante, símbolo de riqueza

Adire
Tecido tingido com técnicas de amarração e pintura com índigo.
As estampas são criadas artesanalmente e cada padrão tem um significado próprio, como proteção, prosperidade e sabedoria.

Kampala
Derivado do adire, com coloração mais vibrante, usada no cotidiano e em festas.
As principais peças da indumentária iorubá
Para mulheres

Bùbá: bata ampla de manga curta.
Ìró: pano enrolado na cintura, como uma saia.
Gèlè: o famoso turbante estruturado. É símbolo de elegância e respeito; sua amarração pode ser simples ou extremamente elaborada.
Ìpèlè/Iborún: echarpe usada sobre o ombro ou diagonalmente no corpo.
Kìlà: acessório de cintura, muitas vezes usado para marcar feminilidade e status.
Para homens

Bùbá: versão masculina da túnica.
Sóró: túnica longa e reta.
Ṣọ̀rọ̀ ou Bùbá e Sòkòtò: conjunto de túnica com calça.
Agbádá: talvez a peça mais imponente da moda iorubá. Uma capa ampla e majestosa usada pelos homens em ocasiões especiais. Representa autoridade, maturidade e respeito.
Fìlà: o chapéu masculino, geralmente feito de aso-oke.
As joias: poder, proteção e identidade

O uso de joias é central para a estética iorubá.
Contas de vidro (iléke): remetem aos orixás, linhagens familiares e rituais de iniciação.
Bronze e latão: associados à realeza e à cidade de Ifé.
Miçangas coloridas: usadas tanto em roupas quanto em acessórios, cada cor com simbolismo próprio.
No contexto religioso afro-brasileiro, essas contas permanecem vivas como parte da liturgia.
As cores e seus significados

Cada tonalidade carrega seu próprio universo simbólico:
Branco: pureza, espiritualidade, ancestralidade.
Azul e índigo: equilíbrio, profundidade, conhecimento.
Vermelho: energia, poder, vitalidade.
Dourado: prosperidade, realeza.
Preto: maturidade, força interior, ancestralidade profunda.
No Brasil, essa relação com cor aparece nas roupas rituais dedicadas a cada orixá.
A estética iorubá e sua influência no Brasil

No período da diáspora africana, muitos iorubás chegaram ao Brasil, especialmente à Bahia. Sua indumentária influenciou:
As saias rodadas das baianas
O uso de turbantes
Joias com contas
Estamparia de amarração como o tie-dye
Tecidos cerimoniais do candomblé
A presença do branco nas festas tradicionais
A estética se incorporou ao cotidiano brasileiro, ressignificada, mas ainda portadora da memória ancestral.
A moda iorubá hoje: tradição e reinvenção

A moda iorubá contemporânea mantém as bases tradicionais, mas dialoga com:
cortes modernos
streetwear
alta costura africana
coleções de designers como Lisa Folawiyo, Deola Sagoe e Kenneth Ize, que transformam aso-oke em peças de passarela
As roupas iorubás continuam sendo símbolo de orgulho e resistência cultural.
A moda global está finalmente reconhecendo a profundidade das estéticas africanas. A indumentária iorubá questiona o eurocentrismo histórico da moda, propondo outra forma de pensar vestimenta:
como arte
como símbolo
como pertencimento
como narrativa
Compreender essa cultura amplia nossa visão sobre o que significa vestir-se e cria pontes entre passado, presente e futuro.

A indumentária iorubá é um dos sistemas de moda mais sofisticados do mundo, unindo técnica artesanal, simbolismo espiritual e expressões sociais profundas. Cada tecido, acessório e cor carrega histórias de reis, sacerdotisas, artesãos, famílias e comunidades.
Celebrar essa estética é também reconhecer a força da ancestralidade africana que ainda pulsa no Brasil e no mundo.



